Ruy Moreira Lima Cadete do Exercito

Ruy Moreira Lima foi um maranhense de Colina que desceu para o Rio de Janeiro a fim de ingressar no Exército Brasileiro. A FAB ainda não fora criada naqueles anos 30, em que o jovem Ruy estudava na Academia Militar de Agulhas Negras. Ele se ofereceu para servir na aviação militar, que dava seus primeiros passos no Brasil, e se voluntariou para ir à guerra na Itália, como piloto de caça. Foi ele que inventou o grito de guerra dos aviadores brasileiros que combateram o nazi-fascismo nos céus italianos: “Senta a pua!”

O então tenente Ruy Moreira Lima foi um dos recordistas de missões bem sucedidas. Mais de 90 ataques ao solo contra posições inimigas.  O ataque aéreo ao solo é mais arriscado do que o dogfigth, o duelo de avião contra avião. Muitos pilotos brasileiros foram abatidos pelas defesas anti-aérea dos alemães. O próprio Ruy chegou a ser atingido, mas conseguiu fazer um pouso forçado aquém das linhas inimigas. Apesar dos ferimentos, na mesma semana já estava no comando de outro Tunderbolt P-40 sentando a pua nos nazistas.

Foi condecorado até pelo governo americano. Quando acabou a guerra, os EUA doaram os Tuntherbolts  à  FAB. Ruy foi um dos pilotos que os trouxeram ao Brasil. Escreveu um livro magnífico contando a gloriosa história dos aviadores brasileiros na Itália: “Senta a pua”. Super recomendo.

Os pilotos brasileiros, todos voluntários, foram recebidos com mal disfarçada desconfiança por parte dos americanos que chefiavam as operações. Seis meses depois, já eram considerados mais eficientes, mais destemidos e mais habilidosos do que os pilotos americanos, na opinião dos próprios americanos.

Em l964,  Ruy estava no comando da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Recusou-se a participar do golpe militar que deporia João Goulart. Era um legalista e um democrata convicto. Foi afastado do comando e levado a um navio prisão ancorado na Bahia da Guanabara. Ali ficou dois meses em isolamento. Depois de solto, foi expulso da FAB e teve seus direitos políticos cassados.

Ruy buscou emprego na aviação comercial. Quando se preparava para reassumir sua profissão de aviador,  teve o seu brevê cassado. Estava proibido de voar. Buscou na Justiça a anulação do ato infame do então ministro da Aeronáutica, Brigadeiro Eduardo Gomes. Ganhou a causa. Mas o infame ministro baixou uma portaria secreta proibindo o cumprimento da sentença. Era o direito da força sobrepujando a força do Direito.

O veterano herói de guerra execrava os golpistas e manifestava o entendimento segundo  qual eram eles os  homens que não respeitaram as forças armadas. Nunca foi um ressentido. Toda a sua vida foi um amigo da FAB e, depois de anistiado, prestigiava as solenidades da força aérea. Tornou-se benquisto entre os fabeanos, um ídolo da nova geração de pilotos de caça.

Ruy e sua família passaram por muitas dificuldades. Ele teve que vender livros de porta em porta para ganhar o pão de cada dia.  Seria preso mais vezes.  Sofreu muitas ameaças. Atuou intensamente,  no Rio de Janeiro, no movimento pela anistia. Não foi o único militar atingido pelo golpe de l964. Foram centenas. A história dos militares que disseram não ao golpe e à ditadura vai sendo aos poucos resgatada. Mas os militares da nova geração a desconhecem por completo. Deveriam conhecê-la.

Ruy morreu com mais de 90 anos, em 2013. Foi sepultado com honras militares e promovido post-mortem ao posto de General-Brigadeiro, o mais alto da FAB.

Os que se dizem “patriotas” e sonham com intervenção militar e  “novo AI-5” não tem noção do que sofreram os verdeiros patriotas.  Que país é este que se volta com ódio contra um herói genuíno, contra um homem que arriscou a vida na guerra em nome do Brasil? O crime de Ruy foi se manter fiel ao compromisso, feito por todo militar, de defender a legalidade e a ordem democrática. Por isso, ele e sua família pagaram um preço altíssimo.

O código de honra militar seguido por Ruy ele o recebeu de seu pai, Bento Moreira Lima. Quando Ruy ingressou na Academia Militar, recebeu dele uma carta contendo conselhos que foram seguidos por toda a vida. Conselhos que deveriam ser o código universal de honra de todo militar, pelo menos daqueles que procuram dignificar a farda.

Citarei aqui alguns trechos:

“Ruy, és cadete; amanhã, depois, general. Agora deves dobrar esforços e estudar muito”.

“Deves obediência a teus superiores e lealdade aos teus companheiros”.

“Sê um patriota verdadeiro e não te esqueças de que a força só deve ser empregada a serviço do Direito”.

“O povo desarmado merece o respeito das forças armadas. É este povo que deve inspirá-las nos momentos graves e decisivos”.

“Em momentos de loucura coletiva, deves ser prudente,  não atentando contra a vida de teus concidadãos”.

“O soldado não conspira contras as instituições pelas quais jurou fidelidade”.

“O soldado não pode ser covarde nem fanfarrão. A honra, pare ele, é um imperativo e deve ser bem compreendida”.

“Espionar os companheiros visando interesse próprio é infâmia. O soldado deve ser digno”.

Desvairados a serviço do mal vêm às portas dos quartéis incitar os militares a romperem a disciplina e a quebrar a hierarquia. Querem que os militares voltem a empregar a força,  não a serviço do direito,  mas no interesse egocêntrico de suas fantasias paranoicas.  Loucos, querem que os militares cedam à imprudência e atentem contra a vida de seus concidadãos.  Movidos por um falso patriotismo, instigam o Exército a fazer guerra contra os brasileiros que não concordam com as opiniões extravagantes da ralé ultra-direitista, reacionária e inimiga da nacionalidade.

Que os militares não cedam ao canto de sereia dos lunáticos. Que não deem ouvidos às vivandeiras enlouquecidas. Que não voltem as armas que  povo colocou em suas mãos contra este mesmo povo que trabalha e produz as riquezas. Armas que foram postas em suas mãos para defender a soberania nacional e a integridade do nosso território, não para impor o terror político no interesse de minorias egoístas e privilegiadas. Que a nova geração de militares saiba honrar o legado de heróis como Ruy Moreira Lima, o verdadeiro e não oficializado patrono da FAB, e de nossos pracinhas.

Quando alguém invoca a memória de um torturador que manchou a farda verde-oliva com o sangue de brasileiros reduzidos à impotência, conspurca a memória dos militares que foram heróis no campo de batalha na Itália e que permaneceram leais à democracia. Insulta o passado dos que foram leais à democracia ainda que com o sacrifício de suas vidas, de suas carreiras, e até do bem estar de suas famílias.

Que se inspirem no exemplo do Marechal Lott e sejam, como ele foi, o guardião da constituição. Pois, como sabiamente falou o saudoso dr. Ulysses, “traidor da constituição é traidor da pátria”.

Jornalista Hélvécio Cardoso da Silva

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