Ele é a força de Sanção. Já o de Rapunzel era mágico. Gera treta em premiações e são longos e viçosos em muitas representações de Jesus Cristo. Tempo vai e tempo vem e – os próprios e os alheios – continuam no centro das preocupações entre as pessoas. Está nas passarelas e nas pautas sociais. Pipocam nas redes sociais dicas de cuidados para eles e, nos salões de beleza, tem sido um negócio rentável. Seja muito bem-vindo, este é o famoso cabelo.

A importância e a preocupação destinadas às madeixas, por exemplo, vem de séculos. Na Grécia Antiga, fiéis ofereciam cabelos aos seus deuses. Cuidar das melenas em salões também era costume nessa época em que os fios eram perfumados com óleos essenciais e até tingidos. No antigo Egito, o Faraó usava perucas que representavam o poder.

O cabelo foi considerado para os homens símbolo de virilidade e, para as mulheres, de sensualidade. Tanto é que na religião islâmica elas tampam os fios com véu. Já em algumas regiões evangélicas são usados longos, até a altura da cintura.

E, olha só, pensadores como Freud, Charles Berg e Edmundo Leach escreveram sobre cabelos em uma perspectiva sexual. Já CR Hallpike o corte ao controle social. Ainda bem que a sociedade evoluiu.

De fato, eles representam fatores culturais, religiosos e, claro, também são frutos da moda. Cada época trouxe suas tendências. Na década de 1950, a febre era os fios curtos com topete enrolado com bobs e acessórios. Em 1960, foi a vez do black power e laquê.

Nos anos 70, a tendência era os cabelos naturais desalinhados. Já em 80, dez anos depois, os cabelos cacheados eram desejados e os permanentes eram muito usados. Além disso, a famigerada franja – ao estilo Chitãozinho e Xororó – também era destaque.

Nos anos 90, foi a vez dos cabelos lisos frisados e das presilhas. Em 2010, as luzes marcadas, franjas repicadas, bandanas e boinas eram o auge. Nessa época, houve ainda a popularização das chamadas escovas progressivas, um processo químico que deixa as madeixas lisas com elementos como formol.

Ao natural

A moda desta década, para o cabeleireiro e proprietário da marca Su Beauty Suemar Borba, são os cabelos mais naturais, tanto na cor como na textura. De acordo com ele, as progressivas ainda são feitas, mas em um processo menos agressivo, que não promete alisamento e sim, alinhamento dos fios. “Aquela coisa chapada, como era antes, não se usa mais e foi substituída para um cabelo mas disciplinado sem químicas agressivas”, explica.

As luzes marcadas e os platinados da década passada perderam espaço para os cabelos iluminados, mais naturais. Ainda segundo Suemar Borba, muita gente tem preferido os tonalizantes às tintas, visando esse aspecto mais próximo das madeixas originais. “Os ruivos também continuam em evidência e provam que vieram para ficar”, acrescenta.

O cabeleireiro ressalta também que cortes mais modernos, como o das falsas franjas, estão entre os preferidos dos clientes. “Também são procurados apliques de preenchimentos para aumentar o volume e não para fazer mudanças de curto para grande. As laces também estão em alta, já que não são algo permanente e permitem ao cliente mudar de visual com facilidade”

Além das mudanças na moda, o cabeleireiro analisa que houve uma revolução no modo de encarar a própria imagem. Isso, segundo ele, devido à forte relação dos clientes com as redes sociais. “As pessoas começaram a olhar mas para si mesmas, reparar, não só nos cabelos, como na maquiagem, dentes, etc.” , analisa.

Este comportamento, conforme Suemar, fez com que as pessoas começassem a se informar mais sobre procedimentos e cosméticos em tutoriais de beleza. “Isso não é ruim para o setor, pois as pessoas vão aos salões bem mais cientes dos cuidados que precisam ter”.

Nem sempre a relação com os cabelos é saudável. A sociedade sempre tentou controlar os cabelos afros que são crespos e crescem para cima. Eram tidos como cabelos “ruins” ou “rebeldes”. Logo, crianças desde muito novas foram submetidas a alisamentos dolorosos.

Esse é o caso da professora universitária Marna Moreira, 30. Quando criança, conta que, pelos seus cabelos crespos, já foi motivo de piadas, que a fizeram optar pelo alisamento aos 10 anos. “Primeiro fiz escova e chapinha. Saía do salão com a cabeça toda queimada. Fugi muito de chuva e deixei de tomar banho de piscina. Passei horas esticando e queimando uma característica da minha família”, recorda-se.

Há cerca de dez anos, ela parou de alisar os cabelos, após um corte químico. Cortou os fios e passou pela chamada transição capilar. Após certo tempo, voltou a apresentar os cabelos crespos bem cuidados e saudáveis. “Hoje, se a minha pele, menos escura, camufla que sou preta, o cabelo não esconde. Ainda passo por injúria racial por causa dele, mas hoje já não sinto que o problema está comigo”.

Mas a professora sempre está mudando o cabelo: já usou tranças, pintou, raspou a nuca e agora está com os cabelos dredados. O estilo, ela conta que era visto com preconceito por ela mesma, que achava que eram sujos feios. Porém, mudou a concepção e adotou aos dreads e está feliz.

“Todo e qualquer cabelo, se não for lavado e cuidado com frequência, vai ter essas características. Mas será que essa impressão ocorre de cara com os cabelos lisos?”, reflete.

Boa fase

Após o distanciamento social da pandemia, o cabeleireiro conta que o setor ainda não voltou ao normal, mas não está ruim. “Após a pandemia as pessoas refletiram sobre muitas coisas, entre elas sobre a beleza. Então tenho clientes que começaram a se cuidar mais outros que deixaram de frequentar salões” , conclui. Vale lembrar que segundo dados do O Estadão, só no Brasil, 343 mil salões de beleza foram abertos desde 2020. O número é considerado alto e o setor é um dos três que mais abrem CNPJ no Brasil. A razão da boa fase pode ser justiçada em uma pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), que apontou que 66% das pessoas consideram que gastos com beleza são uma necessidade e não luxo.

A terapeuta ocupacional Vera Lúcia Silva, está nessa porcentagem. Ela acredita que cuidar do cabelo é cuidar da saúde, já que melhora a autoestima e o bem-estar. Ela é daquelas que, no decorrer da vida, aprendeu a fazer procedimentos, mas não dispensa um bom salão de beleza. “Sempre recorro a minha profissional de confiança para qualquer mudança. Em casa só faço alguns retoques”, revela.

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