Marcus Vinícius Beck 

A “morte da democracia” não chegou a ser algo necessariamente assombroso durante a década de 1960, mas provocou perseguições e sanções de direitos, como a liberdade de expressão e política.

Dizem que isso pareceu algo relacionado à morte de um tio velho, alguma pessoa próxima, ou algo do tipo, cujo nome tinha sido familiar por muitos anos, especialmente na infância, mas que morreu onde sempre viveu, numa cidade distante que a família nunca conseguiu visitar. 

Para compreender com clareza os motivos que levaram os militares dar um golpe e tomar o poder no Brasil, fazendo com que os reflexos chegassem a Goiás, é preciso voltar à década de 1950.

Em 1958, quando fora criada a Escola Superior de Guerra (ESG), em Goiânia, o objetivo mais explícito dos homens de farda era barrar uma ‘invasão comunista’ e defender a família, a propriedade privada e os valores cristãos. Artistas, intelectuais, estudantes e trabalhadores foram taxados de comunistas e subversivos. 

A Escola Superior de Guerra teria sido construída com a supervisão dos Estados Unidos. O Tio Sam demonstrava interesse na economia brasileira e, na cabeça do então presidente norte-americano Lyndon B. Johnson, era preciso que o Brasil escancarasse as portas para as políticas liberais, que sempre tiveram os EUA como grande modelo. A

gota d´água na visão dos militares imperialistas fora o discurso proferido por Jango na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964.

Renúncia

Em 25 de agosto de 1961, o então presidente Jânio Quadros renunciou ao cargo apenas nove meses após tomar posse e, com isso, instalou-se uma crise política que gerou na população incertezas em relação ao futuro do País.

As Forças Armadas divulgaram manifesto contra a posse do vice-presidente João Goulart (latifundiário gaúcho que havia aumentado o salário mínimo em 100% no governo de Getúlio Vargas, em 1953, quando foi Ministro do Trabalho). Jango, como era chamado o vice-presidente, estava na China quando soube da renúncia, negociando novos parceiros comerciais.

Tal episódio provocou desconfiança em determinados setores das Forças Armadas que viam a possibilidade de o Brasil vir a se tornar um País comunista cada vez maior.

Com um cenário de Guerra-Fria (1947-1991), onde Estados Unidos e União Soviética disputavam batalhas estratégicas e conflitos indiretos, o raciocínio do pessoal no exército brazuca não era difícil de entender: era preciso fazer de tudo para evitar a “ameaça vermelha” (em alusão a cor da bandeira comunista, a da foice e do martelo).  

Portanto, os dias que se sucederam a partir de então foram de completa tensão. A decisão de Jânio Quadros (eleito presidente em 3 de outubro de 1960 com o discurso de que iria “varrer o Brasil”) trouxe instabilidade ao país, provocando disputa entre diferentes esferas políticas.

Setores da sociedade se dividiram e um cenário polarizado começou a se desenhar, o que acabou gerando revolta em setores da Igreja Católica. A Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em abril de 1964, levara milhares de pessoas às ruas. 

Retornando ao prenúncio do golpe civil-militar, de um lado estavam os que defendiam a manutenção da ordem jurídica, que previa a posse de Jango. Entre agosto e novembro de 1961, o governador gaúcho Leonel Brizola, cunhado de Goulart, deu início ao movimento que ficara conhecido como Campanha pela Legalidade.

A mobilização tinha o objetivo de apoiar a subida do ex-ministro do trabalho à rampa do Palácio do Planalto e fazer com que a Constituição de 1947 (primeira após Ditadura do Estado Novo (1937-1946) fosse cumprida à risca).

Campanha pela legalidade

Liderado por Brizola, o movimento utilizou as redes de rádios do estado com a intenção de buscar apoio à causa por meio de difusão de informações sobre a resistência pela posse de Jango.

Em boletins diários, o então governador do Rio Grande do Sul pedia para a população lutar pelo retorno seguro à posse do vice de Jânio Quadros. E, de quebra, clamava ainda que o povo se posicionasse contrário ao golpe que estava sendo tramado pela junta militar, já que este seria o plano das Forças Armadas. 

A rede radiofônica da Legalidade funcionava nos porões do Palácio Piratini, sede do Governo rio-grandense.

Com transmissões que não paravam um minuto, as ondas eram retransmitidas por 104 emissoras em todo o país, fazendo com que o Estado sulista estivesse à beira de uma guerra civil e que ecos dessa batalha fossem sentidos nos quatro cantos do País. Descontentes Tropas da Brigada Militar foram posicionadas de prontidão para defender o Palácio Piratini, QG do movimento pela legalidade. 

Em 1964, porém, Borges teria ouvido rumores de que Jango e aliados pretendiam dar um golpe comunista no Brasil, fechando o Congresso Nacional e impedindo eleições presidenciais que iriam acontecer no ano seguinte.

Durante pronunciamento no Palácio das Esmeraldas, um dia antes de os milicos tomarem o Poder, afirmou, conforme reportagem publicada no jornal O Popular, em 30 de março de 2014, que “os goianos (…) que pegaram em armas em 1961 para que o presidente assumisse o poder, a empunharão novamente para que ele não faça do País uma casa grande onde ele é patrão”.

Borges foi deposto em 26 de novembro de 1964. Mas diário, em série de reportagem sobre os 50 anos do golpe militar, em 2014, revelou que o governador foi conivente com o regime militar desde o início.

Levantado por Tereza Cristina Pires Favaro, então doutoranda em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG), o documento mostra que Borges tinha planos, após o golpe, de se eleger presidente da república em 1965. Para a pesquisadora, ele acreditava que os militares entregariam o poder na sequência e, desta forma, ele seria o “herdeiro civil do golpe”. 

 

 

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