Marcus Vinícius Beck

Peço a  devida licença, como fiz em várias oportunidades, para dirigir esta carta aberta ao Neymar, pai do mimado camisa 10 do escrete canarinho, homem que trocou a chuteira de ouro por sandálias de humildade na Copa, com quem gostaria de ter um dedo de prosa, levar um lero, trocar uma ideia, sem elogios, sem vigiar e punir, papo reto, afinal sou um protótipo de tiozão zoado que bebe breja vendo o futiba nosso de cada dia na terra de Mário Filho, Nelson Rodrigues, Paulo Mendes Campos, Sócrates e Afonsinho.

Ih, rapaz, preciso te contar: não curti de jeito nenhum o tal encontro que você teve com o presidente Jair Bolsonaro (brother do famigerado Major Olímpio, bolsonarista autor de projeto de lei que tem como objetivo criminalizar as torcidas organizadas, em São Paulo) para “tratar de questões tributárias relativas à prática esportiva”. Meu consagrado, fala sério, pô: você foi lá discutir a possibilidade de reduzir um calote estimado em R$ 68 milhões quando o prodígio garoto vazou do Santos para o Barça, em 2013.

Até aí, sinceramente, não há grilo algum. É como dizem, aquele que está no inglório papel de devedor, isto é, de caloteiro mesmo, tem mais é de tentar baixar o valor, outra coisa que vale a pena rememorar é que o senhor e seu estimado filho são simpatizantes do milico frustradão ungido da fé que ocupa o trono maior do Palácio do Planalto. Sabemos, meu caro, que fez campanha para o reaça e o menino Ney gravou vídeos exaltando o troglodita israelense Benjamin Netanyahu e rasgando cera ao Bolsonaro.

Sim, Seu Neymar, compreendemos que a grana que deve ao fisco é alta pra cacete, mas me ocorre cogitar que teu filho de ouro pode ajudar a reduzir o astronômico montante, afinal ele é uma commodity valiosíssima, para usar uma palavra comum no mundo financeiro. Mas, pense comigo, amigo: o futebol, esporte presente na formação da cultura brasileira, possui função social e você, na condição de pai do menino da Vila Belmiro, deveria pensar nessa responsabilidade, não é mesmo?

Fiquei matutando dias desses enquanto bebia uma no bar, que é bem comum um sujeito que deve à Receita ser recebido numa boa pelo relax ministro da economia, pelo chefe da Receita e pelo presidente da Nação. Ah, acontece com todo cidadão brasileiro esse tipo de encontro, ora pois. Aff, é balela, tô te falando, basta que seja um grande sonegador (sim, uai, pois é assim que chamam quem não paga imposto, de acordo com o oráculo Aurélio) e seja camarada da famiglia Bolsonaro e dos sanguessugas que a cerca.

No mais, Seu Neymar, peço desculpas pela encheção de saco, mas isso é um gesto nobre, no futebol e na vida, não te esqueça disso jamais – aliás, só para refrescar a tua agitada memória de homem de negócios, você é um cara esquentado com jornalistas, lembra do episódio que protagonizou com Paulo Vinícius Coelho, na ESPN, há anos? Pra quê isso, homem do Céu? Ah, não quero te azucrinar mais, pois é um sujeito tão ocupado e a imprensa ‘antiética, provinciana e clubista’ não sai do teu pé.

Quanto ao menino Ney dentro das quatro linhas, creio que ele precisa jogar mais bola e evitar falar merda por aí, parando de agir como se não devesse nada para ninguém. Aceite este garrancho de um aficionado pelo esporte bretão que enche vossa paciência de tantas frases roubadas do titio Nelson. Já que falo do mestre, passo a bola para quem sabe: “As vaias são os aplausos dos desanimados”. E o Brasil – já há um tempo – está assim contigo e com teu menino, de 27 anos. Grande abraço, seu Neymar!

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