A partir de uma parceira tecnológica internacional, o Brasil vai aumentar a capacidade de produção de mosquitos com uma bactéria capaz de impedir a infeção por dengue, zika e chinkungunya.
Chamado de Wolbachia, o microrganismo impede o Aedes aegypti de transmitir as doenças. O método é considerado um dos mais promissores no controle dessas epidemias e vem sendo implementado em diversos países, com resultados positivos.
O Brasil, que já tinha um projeto piloto desde 2012 em cinco cidades, agora terá a possibilidade de transformar a experiência em uma política pública nacional. O projeto envolve a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a entidade internacional World Mosquito Program (WMP), o Ministério da Saúde (MS) e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP).
Na última década foram iniciadas inserções do mosquito na cidade do Rio de Janeiro, em Niterói (RJ), Campo Grande (MS), Petrolina (PE) e Belo Horizonte (MG). Houve redução de 69% dos casos de dengue e 56% de chikungunya nas áreas que receberam o inseto em Niterói, por exemplo. Na região norte da capital fluminense, comunidades periféricas chegaram a registrar queda de 38% na dengue.
Com base no perfil epidemiológico de cada região, o MS vai definir os municípios prioritários para a ação. A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente da pasta, Ethel Maciel, afirma que a intenção é alcançar cerca de 70% das regiões com maior incidência das doenças nos próximos quatros anos.
“Esse é um exemplo de como a ciência e a tecnologia são, finalmente, incorporadas à saúde pública. Nós temos consciência de que a incorporação dessa tecnologia vai ter resultados no médio e no longo prazo. O Ministério da Saúde está comprometido em implementar no menor tempo possível e no maior número de municípios possível.”
Entre as ações previstas no projeto está a construção de uma biofábrica com capacidade de produzir até 100 milhões de exemplares de mosquitos com Wolbachia por semana e cinco bilhões de ovos por ano. Os recursos já estão garantidos.
Com a capacidade produtiva atual, a Fiocruz já vai começar a elencar municípios para receber os mosquitos. Está previsto um aporte adicional de R$ 80 milhões para ampliação imediata do método.
Será criado ainda um fundo de contrapartida. A ideia é incentivar empresas brasileiras, instituições de caridade e indivíduos de alto patrimônio líquido a investir na aplicação da tecnologia.
Mosquito mutante?
A Wolbachia é uma bactéria observada em 60% dos insetos identificados no planeta, mas não é natural no Aedes aegypti. A descoberta de que a espécie passa a infectar menos quando recebe o microrganismo foi feita há 15 anos por cientistas da Monash University em Melbourne, na Austrália, e pelo coordenador do Programa no Brasil, Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz.
Vale ressaltar que contaminar o mosquito com a Wolbachia não cria uma nova espécie e é um método comprovadamente seguro e sustentável. A bactéria manipula a reprodução dos insetos em que está presente e passa de geração em geração após as primeiras inserções. Com o tempo, o número de indivíduos com o microrganismo aumenta naturalmente.
“No Brasil, temos trabalhado desde 2012 em áreas bem pequenas, coletando informações e evidências para que pudéssemos crescer sempre baseados na ciência. Conseguimos, nessa primeira fase, até hoje, três milhões de habitantes protegidos no país. O que estamos anunciando hoje é uma guinada de produção industrial para, depois de dez anos, termos capacidade de proteger 70 milhões de habitantes”, afirmou Luciano Moreira no evento de lançamento da iniciativa.
Edição: Thalita Pires – Brasil de Fato